
Na quarta-feira, 6, fui ver o Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (File), em cartaz até o dia 31 de agosto na Galeria de Arte do Sesi, em São Paulo. Saí com sentimentos muito paradoxais: encantado com as instalações e puto da cara com a arte contemporânea. O File reúne 300 artistas de 30 países que utilizam a linguagem eletrônica para fazer arte. Ok, a iniciativa é válida e deixa de boca aberta quem adora tecnologia. São instalações interativas que permitem ao espectador se tornar parte da obra ao interagir com ela e transformá-la.
Tudo bem que essa participação e, principalmente, a compreensão dos conceitos ali implícitos e explícitos, já era preocupação de gente importante para a história da arte como Marcel Duchamp. Mas a coisa foi longe demais. Esse diálogo entre o criador e quem frui sua obra saiu do campo das habilidades humanas e está apoiado nas maravilhas que os computadores, sensores e projetores são capazes de fazer. Isso porque eu nem estou falando da exposição que está em cartaz no Itaú Cultural, com obras feitas por ninguém mais, ninguém menos, do que um computador! Manet deve estar se revirando no túmulo.
A modernidade e a ânsia acelerada pelo novo, palavra que perde seu sentido conforme evoluímos (se realmente evoluímos) em busca de um futuro que nunca existiu, dado que é o presente, atropelam conceitos básicos da arte como o sentimento. A sociedade parece querer viver como os personagens do desenho “Os Jetsons”, mas não percebe que isso já acontece, excluído o trânsito espacial. No File, sua voz se transforma em objetos que flutuam, seu corpo vira gosma na parede e seus passos ganham sons da natureza. É a fusão entre homem e máquina, mas que deveria excluir a arte e ficar restrita aos laboratórios de informática.
Sempre fui muito conservador com relação à arte, que, para mim, acaba no Impressionismo e encontra algum eco de vida depois disso somente com Hopper, Dali (que copiou Bosch) e Pollock. É a minha opinião. Arte para mim é a sublimação do real pelas mãos, eu disse mãos, do Homem. De mimetização da realidade, a arte já foi crítica social, impressões, expressões e abstrações, mas não é aceitável que ela seja informatizações. Já imaginou um software que se encarrega do trabalho de pintar? Você programa: influências maneiristas em uma paisagem romântica. Pum! Um quadro surge. Walter Benjamin, coitadinho, parece ter escrito em vão.
Essa é minha opinião, sei que esse tipo de linguagem artística encontra apoio amplo e incondicional no meio dos “moderninhos”. Ok, cada um na sua, mas não poderia deixar de externar minha indignação com os caminhos que a produção artística vem tomando. Se eu já não gostava de quadros que parecem mal pintados (reconheço a importância de Picasso e Miró, mas não gosto deles), na quarta-feira tive a impressão de que a arte vai morrer, sim. Mas é meio como a morte de Deus na obra de Nietzsche, não significa um fim, apenas mudança de ângulo. Para quem concorda comigo, vale visitar o File, se divertir com as instalações e sair de lá direto para o Masp, que é bem pertinho, para continuar gostando de Renoir e Dégas.
Parei no tempo, pelo menos nos meus gostos. Pode parecer antiquado esse texto, na verdade é, mas é minha visão. Para mim, arte é aquilo que alguém possuidor de um dom especial faz com sentimentos como paixão, raiva e tristeza, e não uma fórmula pronta executada por comandos computadorizados ou uma projeção de filme onde você pode se inserir quando quiser. “A grandeza de uma obra de arte está fundamentalmente no seu caráter ambíguo, que deixa ao espectador decidir sobre o seu significado, dizia Theodor Adorno (amo!!) no século passado. Mas ele disse “significado”, não “composição”! Humpf!Foto: "Homem desesperado" - Gustave Courbet (o realismo dele não era pra chegar a tanto).

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