terça-feira, 12 de agosto de 2008

Na minha boca


Está difícil escrever diariamente aqui. Meu ritmo de vida tem estado (nunca gostei da sobreposição dos verbos “ter” e “estar”, mas ok) muito acelerado e vem esmagando meu cotidiano. Ontem talvez tenha sido um dos dias mais corridos dessa temporada paulistana, que completa um ano na sexta-feira, 15. Acordei super cedo para ir ao dentista em mais uma visita mensal – e cheia de esperanças de que minha dentista ia falar “pode tirar o aparelho de cima” – e segui rumo à região do Shopping Eldorado, onde fica a clínica.

É engraçado como eu consigo, e sempre consegui, precisar o tempo que vou gastar para tomar banho, me trocar, tomar café e chegar até onde preciso ir. Estava tudo certo no cronograma, nenhum minuto adiantado, nenhum segundo atrasado. E lá fui eu subir a Consolação e descer a Rebouças dentro do ônibus (a falta de metrô para aquela região é de doer!). Desce, desce e desce. Quando cheguei ao ponto em que deveria desembarcar, uma moça ficou na minha frente e eu não pude ver que era ali que eu deveria descer. Resultado: tive que desembarcar um ponto à frente, o quê significou atravessar a ponte em cima da Marginal Pinheiros e andar um pouco mais. 10 minutos de atraso, odeio me atrasar, odeio que se atrasem, odeio que me atrasem.

Anda, anda, anda. Fiquei morrendo de raiva de mim mesmo e querendo sufocar aquela moça de casaco verde (bonito, confesso). Cheguei à consulta e tive que esperar minha dentista terminar de atender o paciente que entrou na minha frente na fila, já que eu estava atrasado. Já tinha visto tudo: é um efeito dominó essa questão de atraso, basta atrasar o primeiro compromisso para o resto do dia seguir a ordem atrasada. Já pensava que chegaria atrasado na Redação, na pós-graduação, enfim.

Paguei a mensalidade (é bom, né?) e sentei na cadeira. Nunca tive problemas nem muito menos medo de dentista. Fico quieto e deixo eles fazerem tudo logo de uma vez para acabar o quanto antes o processo. Aí a minha querida doutora Danielle (adoro os dois “L”) fez aquela manutenção básica no aparelho e avisou: “vai ficar um pouco dolorido embaixo porque eu vou apertar mais e colocar uma mola”. Usar aparelho é isso, um monte de ferro, molas, borracha e fios na sua boca. Mas enfim. E doeu mesmo, nem consegui jantar direito. Além disso, ela me recomendou o uso de um elástico para “puxar o dente para fora”.

Mas uma boa notícia: ela disse que se eu usar regularmente o elástico, em três meses tiro a parte de cima desse emaranhado de fios e ferros. Ok, seria melhor ainda se eu conseguisse encaixar o elástico depois de ter almoçado. Ela colocou rapidinho com um instrumento cirúrgico, mas eu, com a mão, não consigo repetir o procedimento. Ou seja, não estou usando a bosta do elástico. Vou ter que comprar uma pinça ou algo do tipo para conseguir colocá-lo.

Saí de lá já atrasado e pensando na maneira mais rápida de chegar à Vila Madalena. É inaceitável que a quarta maior cidade do mundo e a maior da América do Sul não tenha um sistema metroviário satisfatório. Isso me irrita, incompetência me irrita! Decidi pegar um ônibus e descer na Paulista para pegar o certeiro metrô. Nossa, acho que nunca corri tanto, e cheio de bolsa, casacos, afe! Mas consegui, cheguei 30 minutos atrasado apenas, mesmo assim chateado com o atraso. Odeio atraso, repito.

Lembra do dominó? Pois é, dito e feito. Cheguei à pós uma hora atrasado e dei de cara com um professor que nunca tinha visto. Um novo módulo, Metodologia, já estava sendo ensinado e o programa das aulas já devidamente explícito no retroprojetor. Mas sempre tem uma coisa boa. Nesse programa, vi que vamos estudar coisas deliciosas como epistemologia, ética, política, estética e mais outras divisões do meu amor Filosofia. Será mais um módulo subjetivo, de discussão, de idéias, de pensamentos, do jeito que gosto. Fiquei animado e não vejo a hora de meter a cara na bibliografia desse módulo, que inclui nomes deliciosamente sonoros como Nietzsche, Aristóteles, Darwin e Platão.

Até tentei jantar no intervalo, devagar e sempre. Consegui, com dificuldade. Hoje meu dente amanheceu doendo mais ainda e eu com mais raiva do que nunca por não conseguir colocar esse inferno de elástico. Quero tirar logo esse aparelho, me sinto um adolescente tardio com ele, ridículo. Sem contar na boca toda detonada. Vou almoçar agora e comprar a pinça providencial. Quem sabe quando eu terminar de estudar a epistemologia da Metodologia já não estarei sem aparelho?

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